“Well-run libraries are filled with people because what a good library offers cannot be easily found elsewhere: an indoor public space in which you do not have to buy anything in order to stay.” Zadie Smith

quinta-feira, 11 de julho de 2013

"NA ESPREGUIÇADEIRA COM..." MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA

Este mês a Preguiça Magazine senta "Na Espreguiçadeira" Maria do Rosário Pedreira, escritora e 'caça-talentos da edição.

1. O que estás a ler neste momento? Recomendas ou nem por isso?
Terminei agora mesmo um romance que queria ler há muito tempo, mas ainda não tinha conseguido tempo para ele, A Breve e Assombrosa Vida de Oscar Wao, de Junot Díaz, Prémio Pulizer: um verdadeiro pontapé no estômago e o livro que tem, seguramente, a palavra “rata” escrita mais vezes em toda a literatura contemporânea. Uma obra contundente, impiedosa e absolutamente magnífica. Não só ficamos a conhecer a história da República Dominicana para além dos postais de Punta Cana e os seus horrores ditatoriais no século XX, mas também uma família absolutamente notável, de que Oscar Wao é apenas um dos membros. Nunca vou esquecer esta obra-prima que, evidentemente, recomendo a todos os que tenham bons estômagos e gostem de um romance a sério.



2. O que mais facilmente te leva a pegar num livro: a capa, o título, o autor, os amigos ou os desconhecidos?

Normalmente, quando compro livros, já sei ao que vou, a capa é um mero embrulho, o título nunca é decisivo (há tantos livros maus com bons títulos e vice-versa; e, quanto às capas, agora é tudo uma massa indistinta de “papel pintado”, como diz Pacheco Pereira). O autor é, geralmente, aquilo que me move, mas também pode acontecer alguém em quem tenha confiança aconselhar-me um livro que não conheço, embora seja menos frequente (aconteceu-me, por exemplo, com Casa de Campo, de José Donoso, há muitos anos). Também tenho curiosidade pelos jovens autores portugueses que os críticos elogiam, porque é fundamental, na minha profissão, estar atenta à concorrência. Por fim, posso pegar num determinado livro por causa da editora que o publica. Tenho absoluta confiança em alguns colegas e algumas chancelas, sei que o que dão à estampa é de qualidade; mesmo que isso não queira necessariamente dizer que vou gostar, parto para a leitura com um certo optimismo.

[...]

4. Se houvesse um incêndio na casa do teu vizinho, que livro aproveitavas para atirar para a confusão?

Talvez uma coisa (nem lhe chamo livro, porque não merece) chamada Vai Aonde Te Leva o Coração, de Susanna Tamaro, que tive de ler há muitos, muitos anos para fazer uma recensão num boletim que então editava. Era de vómitos. Ainda por cima, manipulador, tratando o leitor como um ignorante que acredita em tudo o que lê e vai na conversa que lhe impingem. Chantagista também. Em todo o caso, isso de queimar livros lembra histórias horríveis que todos conhecemos. Mesmo sendo este livro pequeno e fazendo uma fogueirinha de nada, parece-me que não o mandaria ao lume. Para quê aumentar o fogo do vizinho?

5. O bichinho dos livros passa de pais para filhos?

Creio obviamente ser importante crescer numa casa com livros e ver os pais a ler desde que nascemos. Nem que seja por imitação, o gesto de começar a folhear pode desencadear o amor aos livros. Mas não há, infelizmente, receitas. Há pais leitores com filhos que não lêem, e há pais analfabetos com filhos que adoram ler. O que é preciso é o acesso ao livro para todos, se não for em casa, que seja na escola. Mesmo assim, a paixão pela leitura só acontecerá se entre leitor e livro houver de repente um clique que muda tudo. E há jovens que nunca conseguem sentir esse clique. Os pais podem ser importantes na variedade de livros que colocam à disposição dos filhos, explicando-lhes que, mesmo não gostando de um, poderão gostar de outro. Mas não nos iludamos: haverá sempre pessoas que não vão querer ler.

Ler +

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails