“Se o professor for um bom ‘marketeiro’ dos livros, ele consegue despertar o
interesse dos alunos”, diz Zoara Failla. Em entrevista a ÉPOCA, a pesquisadora
fala sobre os hábitos de leitura de quem ensina e de quem aprende.
ÉPOCA - Qual é o perfil dos professores
ouvidos na pesquisa?
Zoara Failla - É muito parecido com o dos
demais entrevistados. A gente imaginava que, sendo educador, fosse haver um
indicador melhor de leitura, de indicação de literatura, de clássicos,
diferente da população como um todo. É uma amostra pequena, a gente não pode
generalizar, mas é um indício. No seu tempo livre, eles preferem a televisão e
as redes sociais.
ÉPOCA - O que afasta o professor da leitura?
Zoara - Temos problemas na formação desse
professor. São as universidades. Quem está formando esse professor não está
desenvolvendo esse interesse e apresentando a leitura não só como forma de
atualização, mas como forma de lazer. Temos problemas também com tempo de
trabalho. Muitos [professores] têm uma carga excessiva. Além disso, a maioria
tem familiares de escolaridade não muito privilegiada. Há problemas de acesso.
Boa parte das escolas tem bibliotecas, mas elas estão com acervos
desatualizados, têm poucos livros. E, pelos salários baixos, os professores têm
dificuldades para comprar obras.
ÉPOCA - O professor aparece na pesquisa como
um dos maiores influenciadores do hábito da leitura dos brasileiros. Se ele não
gosta de ler, como pode cativar os alunos?
Zoara - Isso é um dos principais problemas. A
escola é um espaço privilegiado para formar leitores. Tanto que a gente
percebe, pela pesquisa, que eles [os jovens] leem mais quando estão na escola.
Depois que saem, deixam de ler porque não foram despertados para isso. Se o
professor não é um leitor, não consegue transmitir esse prazer pela leitura e
conquistar os alunos. Não tem repertório para indicar. Quando você tem uma
conexão com os livros, consegue despertar emoções no outro. O bom leitor
interpreta, fala sobre os personagens, cita frases e faz quase um marketing dos
livros. Se o professor for um bom “marketeiro” dos livros, ele consegue atrair
o interesse dos alunos.
ÉPOCA - É comum que a leitura nas escolas vire
apenas uma atividade obrigatória. O professor tem que indicar obras clássicas
que nem sempre são do gosto dos jovens. Como, então, despertá-los para a
leitura por prazer?
Zoara - Sim, a leitura pode virar uma tarefa feita apenas para responder um
questionário frio, que pergunta a escola literária, a época em que o autor
viveu. Você massacra a obra de arte. Às vezes, o professor obriga uma leitura
que não é adequada para uma faixa etária. Machado de Assis é maravilhoso, mas
uma criança não vai ter condições de apreender aquele universo. Se você
apresenta à garotada uma narrativa que tenha a ver com o momento dela, vai
despertar interesse.
É preciso dar opções de escolhas. Mesmo entre os clássicos, há várias
possibilidades. Infelizmente, o ensino médio está preso também aos
vestibulares. Mas você pode deixar o momento mais interessante, com contação de
história daquele romance ou rodas de leitura. Você pode fazer integração com
outras disciplinas, facilitando a leitura, na medida em que a contextualiza.
ÉPOCA - O que fazer para melhorar as taxas de
leitura entre os professores?
Zoara - É preciso rever o currículo da formação dos professores nas
universidades. Para os que saíram da escola, a alternativa é a formação
continuada, cursos de especialização. É um grande desafio para os educadores
pensar em como fazer com que pessoas adultas descubram os livros e o prazer de
ler.
ÉPOCA - Muitos brasileiros dizem não gostar de
ler. Isso pode estar relacionado a dificuldades de leitura?
Zoara - Avaliações internacionais, como o
Pisa, mostram que cerca 30% dos brasileiros não têm compreensão leitora. Se não
têm a possibilidade de compreender um pequeno texto, não vão gostar de livros.
Primeiro, temos que resolver essa questão, que é essencial: o letramento.
Segundo a pesquisa [do Instituto Pró-Livro], 50% dos brasileiros não são
leitores, ou seja, não leram nenhum livro nos últimos três meses. Desses, 30%
não são leitores porque a escola não os capacitou para a leitura. Portanto,
temos 20% de brasileiros que dominam a leitura, mas não gostam de ler.
ÉPOCA - Por que mesmo crianças pequenas têm
dito que não gostam de ler?
Zoara - A criança fica fascinada com contação de história, quer que repita a
mesma história muitas vezes. Mas nós temos que desenvolver esse interesse. É
preciso ler para criança, ler na frente dela, dar livros de presente. São
formas de conquistá-la, de mostrar que a leitura tem valor. Será que alguém
nasce gostando de futebol no Brasil? Gostam porque isso é valorizado.
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