"...o ar é natural; a Literatura é invenção
humana, no desenrolar de sua cultura. Seja como for, valendo-me inclusive de um
ensaio de Umberto Eco, aí vão alguns exemplos de utilidade da Literatura que
consegui elencar:
1º — A Literatura contribui para a formação,
estabilização e desenvolvimento de uma língua, como patrimônio coletivo. O que
seria da língua portuguesa sem Luís de Camões? O que seria do Italiano sem
Dante Alighieri? O que seria do Espanhol sem Cervantes? O que seria do Inglês
sem Shakespeare? O que seria da Civilização e da língua grega sem Homero? O que
seria da língua russa sem Puchkin? É bom lembrar que impérios que não tiveram
uma Literatura que sobressaísse entraram em decadência sem alcançar o apogeu,
como o vasto império Mongol de Genghis Khan, o maior em extensão territorial da
história.
2º — A Literatura mantém o exercício, o
arejamento, o frescor da língua, que é o principal fator de criação de
identidade, de noção de comunidade, do sentimento de pátria e pertencimento a
uma placenta cultural que nos acolhe e nos dá sentido à vida tanto individual
quanto coletivamente.
3º — A Literatura proporciona o aprendizado,
de uma forma lúdica e segura, ao mesmo tempo em que permite o acesso das novas
gerações aos valores acumulados pelo processo civilizatório e universalmente
aceitos como válidos, como a honestidade, o respeito ao próximo, a importância
da cultura, enfim a transmissão de valores morais, bons ou ruins e o senso
crítico de escolha dentre eles ou até de rejeitá-los.
4º — A Literatura expande a rede neural do
leitor, possibilitando a diversidade das ideias, a capacidade de reflexão, a
noção de flexibilidade e a tolerância para com o diferente, proporciona a
empatia (capacidade de se colocar no lugar do outro — pré-condição para a
existência da ética na sociedade), prevenindo as pessoas contra o sectarismo
político, ao fanatismo, à submissão cega a líderes maliciosos, a ideologias e a
religiões.
5º — A Literatura enseja o surgimento e a
disseminação de valores estéticos, aguça a sensibilidade, introduzindo na vida
das pessoas o verdadeiro sentido do belo, distinguindo-nos da fauna geral, onde
gosto não se discute.
6º — A confabulação da literatura nem sempre
segue o caminho retilíneo desejado pelo leitor, possibilitando a ele entrar em
contado com a frustração ficcional, como exercício de amadurecimento para o
enfrentamento das frustrações reais impostas pela vida de fato, às quais é bom
que resista e supere.
7º — A Literatura, como toda arte, estimula o
cruzamento de informações, possibilita a sinergia do pensamento, amplia a visão
da realidade e até cria realidade nova.
8° — Pelo que foi elencado, a Literatura não é
uma panaceia — remédio para todos os males —, mas a base, a plataforma de
lançamento de cidadãos melhores, numa sociedade portadora de um clima onde
pessoas de boa vontade possam ver implantados seus ideais de paz, respeito,
leveza, cordialidade, preservação e desenvolvimento sustentado.
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