Aquando do lançamento do seu mais recente livro, Ler o mundo, o escritor Affonso Romano Sant'Ana (que foi também o 1º presidente da Fundação Biblioteca Nacional) deu uma entrevista ao Boletim da BN, a qual transcrevemos:
Seu livro fala sobre a figura do prefeito que se recusa a instalar bibliotecas. Como é a figura desse gestor “contra a biblioteca”?
A minha experiência aqui e na vida em geral é que se você pergunta se as pessoas gostam de literatura e se são a favor do livro, todo mundo é, mas você tem que saber quem faz alguma coisa pelo livro. Alguns prefeitos, por estranho que pareça, recusaram os kits para montar bibliotecas públicas. Diziam que preferiam kits de medicina, coisas para resolver problemas de cadeia. Ou seja, não entenderam a proposta. Grande parte do que ocorre com as prisões e nos hospitais é exatamente por falta de informação. A educação antecede a saúde, antecede a justiça social. Felizmente é uma parcela muito pequena de prefeitos. Hoje, pode-se dizer que todos os municípios brasileiros têm uma biblioteca – o que é muito pouco, porque os países nórdicos têm uma biblioteca em cada quarteirão. Portanto, estamos apenas começando uma trajetória muito longa.
O senhor conversou hoje com representantes dos comitês regionais do Proler. Como analisa a figura do mediador de leitura atualmente?
Está havendo no Brasil um clima singular. Essa ideia do mediador de leitura, do agente de leitura, isso se alastrou de um modo que ninguém consegue furar. O governo do Distrito Federal vai trabalhar com isso, no Ceará já se trabalha com isso. O governo de Minas Gerais me chamou pra organizar uma coisa nesse sentido. Os governos de seis estados do Centro-Bahia, Mato Grosso, Goiás, estão apoiando esse tipo de projeto. Quer dizer: entrou para o cardápio de qualquer governador e muitos prefeitos a ideia de que eles têm que trabalhar com a leitura.
O modo de ler o mundo tem mudado bastante. Como o jovem hoje está lendo o mundo? É uma leitura que não é mais do livro ou do papel?
Bota lá no Google “Geração X, Y e Z” e vê a definição do que são essas gerações dos anos 80 pra cá. A Geração Z é a que fica zapeando. Existe uma coisa curiosa nessa geração: ela nasceu plugada em quatro, cinco coisas ao mesmo tempo. O problema é como converter esse pessoal de simples usuários da internet em usuários da cultura. O Brasil está colocando lan houses e telecentros no país inteiro, só na Rocinha existem duzentas lan houses. Tem que dar um jeito de colocar na lan house, através da internet, alguma coisa relativa à leitura. A revolução hoje consiste não mais em ter bibliotecas, mas usar os meios de comunicação eletrônica como bibliotecas portáteis.
[via blog do galeno]
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