Jaime Bulhosa viveu sempre imerso no mundo dos livros e define assim a sua livraria, a Pó dos Livros: é uma livraria de bairro, independente, alternativa, com livreiros experientes e gosto pela partilha das suas leituras. Procura atrair um público diferenciado do das livrarias de grande superfície, clientes mais exigentes, mais selectivos.
Recentemente (maio de 2011) deu uma entrevista ao jornalista Filipe Avillez que foi publicada na revista Montepio e da qual retirámos os excertos abaixo. Mas vale mesmo a pena lê-la na íntegra.
P: Parte central do trabalho do livreiro passa pela selecção das obras a comprar. Quando se editam em média 40 livros por dia no nosso país, como é que lida com isso?
R: Essa é uma das grandes dificuldades na gestão de uma livraria. O espaço físico é obviamente limitado para o exagerado número de livros que se edita e que ultrapassa as reais necessidades do consumidor. Basta entrar num armazém de qualquer editor, olhar para as montanhas estagnadas de livros acumulados, para apurarmos que isso é verdade. O mercado do livro é o único em que, quando decresce a procura, aumenta a oferta. Este paradoxo é resultado das mais ou menos recentes políticas comerciais adoptadas por quase todas as editoras, face à necessidade contínua que têm de lançar novidades, por vezes com qualidade duvidosa, de forma a servir as exigências dos hipermercados, colocando em perigo, do meu ponto de vista, todo o sector do livro.
P: No seu blogue escreveu recentemente sobre o perigo de, num futuro próximo, deixar de haver livrarias em Portugal. Porquê?
R: O que escrevi foi um alerta, uma provocação. Obviamente, continuará a haver livrarias. Contudo, o seu número poderá diminuir drasticamente e a uma velocidade ainda maior do que aquela que fez desaparecer as lojas de música da Valentim de Carvalho, se nada se fizer, é claro, para evitar a pirataria e defender os direitos de autor.[...] Em primeiro lugar, acredito que a grande parte dos livros impressos, com excepção dos livros que as pessoas querem ler na íntegra, como romances, poesia, teatro e similares, irão no máximo, em uma ou duas gerações, ser substituídos pelos chamados livros electrónicos. Para dar um exemplo: a maior livraria virtual do mundo, a Amazon, já vende mais livros electrónicos do que livros impressos.
[...] Em segundo lugar, é ultrajante o desrespeito total pela lei do preço fixo, principalmente os descontos praticados em livros com menos de dezoito meses de edição, nas grandes Feiras do Livro de Lisboa e do Porto. Isso só acontece porque infelizmente não existe nenhum tipo de fiscalização, ou se existe ninguém liga nenhuma. Estas feiras prejudicam gravemente as livrarias que nelas não participam. A verdade é que as grandes Feiras do Livro provocam quedas abruptas nas vendas das livrarias, cujos efeitos se prolongam muito para além da duração das mesmas.
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