“Well-run libraries are filled with people because what a good library offers cannot be easily found elsewhere: an indoor public space in which you do not have to buy anything in order to stay.” Zadie Smith

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

" QUEM NÃO GOSTA DE LER NÃO VAI PROCURAR LIVROS DIGITAIS" AFIRMA ZOARA FAILLA



Os números não deixam espaço para o otimismo. É a conclusão a que se chega quando se toma conhecimento dos dados Uma pesquisa, Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pela Fundação Pró-Livro e pelo Ibope Inteligência[...] revela que 50% da população do país, ou 88 milhões de pessoas, não leem sequer um livro por ano. Ao mesmo tempo, aumentou o número de pessoas que afirmaram passar o tempo de lazer na internet ou vendo televisão – para esses entrevistados, a leitura não seria uma opção de passatempo.
[...]
A socióloga Zoara Failla, coordenadora do estudo, tenta responder em entrevista abaixo ao ‘Alô, Professor’.

A pesquisa aponta que o número de pessoas que preferem ver TV e navegar na internet nas horas de lazer vem aumentando. Como fazer para o livro ser também uma forma de entretenimento? 


Primeiro, entendo que a internet e a TV não roubam leitores. As pessoas que vão navegar na internet ou ver TV não desenvolveram o hábito de ler por prazer. E isso, sem dúvida, começa na escola. As escolas em geral não desenvolvem práticas de leitura. Na verdade, o que se faz é apresentar a leitura como tarefa, como a obrigação que o estudante terá quando sair da escola. Toda a questão começa com o despertar do interesse pela leitura.

Já que aumenta o número de pessoas navegando na internet, não seria o caso de incentivar a leitura nessa plataforma? Livros digitais, por exemplo, poderiam ajudar a aumentar o número de leitores?


Quem não gosta de ler não vai procurar livros digitais. A pessoa só vai fazer isso se gostar de ler. Do contrário, vai para as redes sociais ou para alguma plataforma de interação. Em geral, o que se lê na internet? Recados, mensagens cifradas e sem conteúdo. As pessoas se comunicam, disso eu não tenho dúvida. Mas existe uma diferença grande entre informação e conhecimento. Quem usa a internet dessa forma não desenvolve conhecimento.

E como se desenvolve o conhecimento?


É importante acessar conteúdos mais complexos, de maior qualidade, que leve a pessoa a desenvolver capacidade crítica e de concentração. O livro é um conteúdo mais complexo. Este é o grande problema da informação pasteurizada: ela não dá vazão ao pensamento crítico. Rouba o tempo da pessoa.

Qual seria a importância da leitura num sentido prático e mais funcional?


A leitura é importante na vida social e profissional. Na prática profissional, por exemplo, quem tem capacidade crítica se diferencia, consegue ter um pensamento mais estratégico, faz relação entre as coisas e tem aptidão para usar aquilo que aprendeu. Essas qualidades podem ser levadas para a vida pessoal também.

Como você avalia as campanhas de leitura promovidas pelo Estado?


Toda campanha de leitura é importante. Há essa tendência de seguir modismos, e é inegável que uma celebridade dizer que o livro é importante, traz leitores. Você percebe que as pessoas que são formadoras de opinião têm influência. É legal fazer o livro entrar na moda. Além de ter bijuteria da celebridade, a pessoa passa a querer ler a obra que a celebridade está lendo. É como torcer por um time de futebol: ninguém nasce com um time, ninguém nasce gostando de futebol. Mas o pai incentiva a criança o tempo todo, estimula-o a gostar de futebol. Dá bola, camisa – o pai valoriza o esporte, a família valoriza. De algum jeito é passado para a criança que gostar de futebol é bom. Isso deveria acontecer com o livro e com questões culturais como um todo.

De que maneira?


É importante ler na frente da criança, presenteá-la com livros, criar jogos de perguntas sobre o livro que ela está lendo. É importante criar esse espaço da leitura na vida da criança.

A pesquisa aponta o professor como a pessoa que mais influencia a pessoa a ler. Qual seria o papel da escola na promoção da leitura?


A escola é um espaço privilegiado. E o professor deve saber ler bem, gostar de ler. Senão, ele não saberá fazer o marketing correto. Os clássicos são maravilhosos, mas você tem que ter compreensão do que está lendo para poder ensinar. E os clássicos exigem conhecimento. Machado de Assis é maravilhoso, mas é complexo. Pode ser difícil para o aluno ler Machado de Assis. O importante é tentar identificar do que o adolescente gosta, o que ele quer ler.

E há ‘o livro certo’?


Não! Pode ser Harry Potter, Crepúsculo... Pode ser gibi! O importante é desenvolver o hábito da leitura, divulgar que há pessoas que não conseguem dormir sem ler! Com o tempo, o jovem acha o seu caminho, desenvolve o seu gosto.

Como o professor deve lidar com a diferença de gostos em sala de aula na hora de passar uma obra para ser lida no semestre?


O professor deve conhecer a sua sala de aula. É preciso escolher o livro que contemple a maioria. Ou, quem sabe, dar algumas opções, apresentar cinco ou seis livros. As crianças não são tão diferentes assim. A maioria tem gosto e interesse parecidos.


Ler +

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails