Jared Lee
Pesquisa recente sobre ensino na França
concluiu que os alunos de melhor desempenho não são aqueles que leram os
clássicos. A informação causou alvoroço durante a palestra de Sophie van den
Linden, crítica de literatura infantil de passagem por São Paulo em razão do
lançamento de sua obra, "Para ler o livro ilustrado" (Cosac Naify),
no ano passado. [...] Foi quando Sophie apresentou a ideia que dá base ao seu trabalho: "O importante é permitir aos filhos o
acesso aos mais variados estilos de leitura e o prazer de escolher o que
desejam ler", disse a especialista francesa. [...]
"Hoje, ler um livro ilustrado não significa
ler texto e imagem, é isso e muito mais", salientou Sophie. "É apreciar o formato, o uso de um
enquadramento, a relação entre a capa e as guardas e os seus conteúdos, a
articulação da poesia do texto com a poesia do desenho...".
E por aí vai. A criança, que de boba não tem nada, dá atenção a tudo isso de
modo espontâneo, ela que percebe o mundo ao redor a partir das imagens. "No dia a dia com as minhas filhas de
3 e 5 anos, eu tento ler uma história, mas não dá certo, elas querem de todo
jeito acompanhar a narrativa com a ilustração que existe em cada
página...", revela Júlia Schwartz, editora da linha infanto-juvenil da
Companhia das Letras. À medida que o tempo passa, porém, os pequenos crescem e
perdem essa comunicação direta com o mundo visual. "Em geral, somos estimulados a ler apenas o texto, a se concentrar
nele... O livro ilustrado serve para desenvolver a nossa educação visual que é
muito precária", opina Isabel Lopes Coelho, diretora editorial do
núcleo infanto-juvenil da Cosac Naify. Mais: ao transformar a ideia, o conceito,
em algo concreto, o livro ilustrado alimenta a fantasia, realçando o seu papel
de leitura obrigatória desde a infância. Por uma simples razão: "A imaginação é um componente da
inteligência e da criatividade", lembra Neide Barbosa Saisi, psicóloga
e professora da Faculdade de Educação da PUC-SP.
Uma das qualidades do livro ilustrado (ou livro imagem) está, portanto, em
treinar o olhar do leitor de modo a que ele compreenda todas as sutilezas
artísticas do trabalho que tem em mãos. De uns seis anos para cá, inclusive, a
produção desse tipo de obra é tão complexa que o seu criador deixou de ser
reconhecido apenas como ilustrador, mas sim autor de uma obra completa (às
vezes com texto, às vezes só com imagens) pelas principais editoras do País -
trata-se de um nicho de mercado que não para de crescer, a propósito. "É
um tempo de grande experimentação, de aproximação com as artes plásticas na sua
produção", confirma Fernando Vilela, que, além de ilustrador, também é
artista plástico e professor [...]
Ou seja: misturando técnicas de desenho com pintura e colagem e usando o
computador para finalizar as imagens, Fernando produz um trabalho bem próximo
da obra de arte. "O livro ilustrado
é uma oportunidade de levar para casa uma arte sofisticada que estimula a
educação do olhar, algo importante não apenas para a criança, mas também para
os pais dela", afirma. Ter ou não texto, nesse tipo de livro, passa a
ser um detalhe.
[via educar para crescer]
[via educar para crescer]
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