Não estou convencido de que exista essa
separação clara e definida entre uma geração e outra, a dos “nativos digitais”
e a dos “imigrantes digitais”. A tecnologia é usada por mais velhos e mais
novos e os efeitos tendem a ser os mesmos para a maioria. A diferença é que
quanto mais cedo se está imerso na tecnologia – e é verdade que a tecnologia
está a ser usada por pessoas cada vez mais novas –, maiores serão os efeitos na
forma como aprendem a pensar. Uma das coisas que se sabem é que as grandes
mudanças no nosso cérebro acontecem quando somos novos. Portanto, se as
crianças estão imersas numa tecnologia que encoraja o multitasking e
o pensamento distractivo, vão adaptar-se a isso e infelizmente não vão ter a
oportunidade ou o incentivo para desenvolver modos de pensar mais
contemplativos e reflexivos. Há o mito de que os “nativos digitais” não sofrem
os efeitos das novas tecnologias, porque se adaptam desde cedo. Acontece que
isso é completamente errado, são bastante influenciados pelos aspectos
positivos e negativos da tecnologia, porque ela marca a forma como pensam desde
o princípio.
Como é que imagina as principais mudanças na
forma de pensar desta geração daqui a dez anos?
As conexões do nosso cérebro formam-se durante
esse período em que lançamos as fundações do nosso modo de raciocinar que
perdura o resto das nossas vidas. Se a maior parte da nossa experiência se
centra em olhar para um ecrã, em particular um ecrã de computador, que encoraja
mudanças rápidas na nossa atenção, omultitasking e a atenção repartida,
então esse passa o ser o modo como optimizamos o nosso cérebro para agir –
treinamo-nos a nós próprios para pensar dessa forma. Por outro lado, se não
dermos oportunidade para desenvolver outros modos de pensar mais atentos que
requerem concentração – o tipo de pensamento que é encorajado, por exemplo, por
um livro impresso, porque não há mais nada além das páginas –, isso vai
influenciar a forma como pensamos e mais especificamente a estrutura do nosso
cérebro. Essencialmente, estamos a fazer uma escolha ao disponibilizar a
tecnologia para crianças cada vez mais novas, estamos a fazer com que elas
pensem de uma forma que diria superficial, dando informação a toda a hora,
dividindo a sua atenção. Não penso que isto seja a primeira vez que isto
acontece com a tecnologia, mas a sociedade devia fazer julgamentos sobre a
forma como usamos as nossas mentes baseados no que a tecnologia tem de bom e de
mau.
[via Público]
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