O Plano Nacional de Leitura veio ajudar a
criar hábitos de leitura na infância?
Isso é muito difícil de avaliar, e acho que
nem com um estudo encomendado se saberia com rigor. Uma parte da vontade/gosto
pela leitura já vem connosco, acho eu (e não tenho certezas nenhumas). Acho
também que a fome pelos livros é o melhor Plano Nacional de Leitura. Como
diz Adélia Prado, «não quero faca nem queijo, quero a fome». Mas como é
que se dá essa fome? É complicado. Vivemos numa época de extremos: em muitos
aspetos há um excesso que rodeia as crianças (e que nada tem a ver com pobreza
nem riqueza): excesso de programas, projetos e iniciativas, excesso de
televisão, excesso de tralha até na mochila da escola, excesso de solicitações
e ruído. Para a leitura dar prazer, tem de haver imersão total. Para haver
imersão total, tem de haver silêncio. Para haver silêncio, tem de se desligar a
tralha toda lá de casa… E é tão difícil hoje em dia. Eu defendo que se
crie uma tarde por semana na escola em que cada um vá para a biblioteca e leia
o que lhe apeteça: revistas, jornais, livros de banda-desenhada, romances,
livros sobre futebol ou dinossauros ou poesia. E no final ninguém é obrigado a
preencher uma ficha de leitura. (Mas acho que iniciativas como o Plano
Nacional de Leitura são excelentes, claro. Muitas pessoas que estavam fora do
universo dos livros passaram a estar mais atentas.)
Vale a pena ler a entrevista na íntegra aqui
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