Excertos da obra de Manoel de Barros, Livro sobre Nada, este diário de Bugrinha, um menino de 10 anos, num Brasil rural que ele tão bem conheceu a partir do seu 1º ano de vida quando o seu pai se estabeleceu com uma fazenda: Nequinho, como era chamado carinhosamente pelos familiares, cresceu brincando no terreiro em frente à casa, pé no chão, entre os currais e as coisas "desimportantes" que marcariam sua obra para sempre. "Ali o que eu tinha era ver os movimentos, a atrapalhação das formigas, caramujos, lagartixas. Era o apogeu do chão e do pequeno." O livro pode ser lido aqui
22.1
O nome de um passarinho que vive no cisco é joão ninguém. Ele parece com Bernardo.
23.2
Lagartixas têm odor verde.
2.3
Formiga é um ser tão pequeno que não agüenta nem neblina. Bernardo me ensinou: Para infantilizar formigas é só pingar um pouquinho de água no coração delas. Achei fácil.
23.2
Quem ama exerce Deus — a mãe disse. Uma açucena me ama. Uma açucena exerce Deus?
2.3
Eu queria crescer pra passarinho...
5.3
A voz de meu avô arfa. Estava com um livro debaixo dos olhos. Vô! o livro está de cabeça pra baixo. Estou deslendo.
5.6
O frio se encolheu nos passarinhos. Ó noite congelada de jacintos! Eu estou transida de pétalas.
7.8
O pai trouxe do campo um filhote de urubu. Ele é branco e já fede.
12.8
As garças descem nos brejos que nem brisas. Todas as manhãs.
22.4
Hoje completei 10 anos. Fabriquei um brinquedo com palavras. Minha mãe gostou. É assim:
De noite o silêncio estica os lírios.
in "O livro sobre nada", Manoel de Barros
Editora Record, Rio de Janeiro
Hoje completei 10 anos. Fabriquei um brinquedo com palavras. Minha mãe gostou. É assim:
De noite o silêncio estica os lírios.
in "O livro sobre nada", Manoel de Barros
Editora Record, Rio de Janeiro
[via Bruaá]
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