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quinta-feira, 30 de junho de 2011

LIVRO SOBRE NADA DE MANOEL DE BARROS



Excertos da obra de Manoel de Barros, Livro sobre Nada, este diário de Bugrinha, um menino de 10 anos, num Brasil rural que ele tão bem conheceu a partir do seu 1º ano de vida quando o seu pai se estabeleceu com uma fazenda: Nequinho, como era chamado carinhosamente pelos familiares,  cresceu brincando no terreiro em frente à casa, pé no chão, entre os currais e as coisas "desimportantes" que marcariam sua obra para sempre. "Ali o que eu tinha era ver os movimentos, a atrapalhação das formigas, caramujos, lagartixas. Era o apogeu do chão e do pequeno." O livro pode ser lido aqui

22.1

O nome de um passarinho que vive no cisco é joão ninguém. Ele parece com Bernardo.

23.2
Lagartixas têm odor verde.

2.3
Formiga é um ser tão pequeno que não agüenta nem neblina. Bernardo me ensinou: Para infantilizar formigas é só pingar um pouquinho de água no coração delas. Achei fácil.

23.2
Quem ama exerce Deus — a mãe disse. Uma açucena me ama. Uma açucena exerce Deus?

2.3
Eu queria crescer pra passarinho...

5.3
A voz de meu avô arfa. Estava com um livro debaixo dos olhos. Vô! o livro está de cabeça pra baixo. Estou deslendo.

5.6
O frio se encolheu nos passarinhos. Ó noite congelada de jacintos! Eu estou transida de pétalas.

7.8
O pai trouxe do campo um filhote de urubu. Ele é branco e já fede.

12.8
As garças descem nos brejos que nem brisas. Todas as manhãs.

22.4
Hoje completei 10 anos. Fabriquei um brinquedo com palavras. Minha mãe gostou. É assim:
De noite o silêncio estica os lírios.


in "O livro sobre nada", Manoel de Barros
Editora Record, Rio de Janeiro
[via Bruaá]

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