Entrevistar o escritor Bartolomeu Campos Queirós
é como conversar sobre literatura na varanda de casa. Sem rodeios, o
mestre dá dicas, fala sobre o processo de criação, expõe idéias, desvenda
segredos e nos mostra que ainda há muitos caminhos a serem trilhados por nossos
pensamentos. Seus textos são muito emocionais, voltados para
as descobertas e inquietações dos personagens.
Como é seu processo de criação? Você pensa em um
leitor específico quando escreve uma história?
Quando escrevo procuro exercer o melhor de mim.
Procuro uma linguagem direta, clara, frases curtas, o que não impede o texto de
suportar uma análise literária. Exploro as metáforas, não apenas como figura de
estilo, mas a metáfora permite vários níveis de entendimentos. Não seleciono o
assunto, não gosto de literatura com destinatário, dividindo o mundo como se
existisse um mundo para criança e outro para os adultos. A existência é um fio
único que começa no nascimento e encerra com a morte. Tento construir um texto
sem fronteiras. Cada leitor se inscreve nele a partir de suas experiências.
Todos vivemos num mesmo mundo e somos portadores da fantasia,que nos permite
dialogar com o universo.
Como você vê a Literatura no cenário da Educação no
Brasil de hoje? O que você acha que poderia ser feito para melhorar isso?
Vejo com alegria a preocupação, tanto da escola como
de toda sociedade, com a formação do leitor. A escola só cumpre sua finalidade
e se torna permanente na vida do aluno quando forma leitores. O sujeito sai e
continua se educando vida afora. Acredito que devemos facilitar a aproximação
do professor com a literatura. Para criar o hábito da leitura o professor tem
que possuir hálito de leitura. O trabalho maior deve ser junto dos professores,
para que eles deixem também transbordar seu gosto pela leitura.
[...]
Algumas pessoas têm a idéia, equivocada, de que
criança não gosta de poesia. O que você diria a estas pessoas?
As crianças gostam sim de poesia. É preciso saber
apresentar a poesia para elas. A poesia é um texto contido, econômico, com
bastante abertura para o leitor apreciar seus tantos sentidos. Depois a criança
gosta do jogo com as palavras, das rimas rimas, do inusitado. A criança é um
ser aberto para o mundo. O que não podemos ter é um conceito de criança. Cada
criança é um conceito. Algumas podem gostar de poesia e outras de mistério. O
importante é gostar de algum estilo. É preciso descobrir.
[via blog do galeno]
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