Vem este 'post' a propósito de uma discussão recorrente entre dois grupos que, ao invés de se complementarem, parecem, por vezes, estarem em campos opostos: bibliotecas e escritores. Com alguma frequência, ouvimos e lemos fortes críticas feitas por escritores após visitas que fizeram a determinadas bibliotecas escolares, por exemplo. Houve, até, um esboço (?) de 'manifesto' feito por um grupo de escritores há cerca de um ano atrás. Recentemente, li estas declarações de 2 escritores na revista do JN (22.04.12):
Valter Hugo Mãe: "Em Portugal, ao contrário de países como o Brasil ou os Estados Unidos, um autor é convidado para ir a uma escola, uma biblioteca ou uma conferência e não é pago. Isto, claro, vai ter de mudar."
"Há cafés que eu deixei de frequentar porque as pessoas vinham falar comigo, há alturas em que preciso de recolhimento para poder criar."
Rui Zink: "Eu não sou contra a prostituição, mas tenho de ser bem pago. A ideia de que um escritor gosta de estar com leitores é mentira. Chegar a uma biblioteca e estar sempre a sorrir consome um autor porque parece que está campanha e isso retira-lhe a espinha."
Pois bem, julgo que deve haver, de parte a parte, equívocos e mal entendidos que urge serem ultrapassados, até porque, como diz Rui Zink, a internet pode muito vir a promover uma espécie de 'missmundialização' da figura do escritor e Agualusa vaticina: "As editoras vão desaparecer, as livrarias vão desaparecer e passaremos a ter os escritores, os leitores e o agente, que se encarregará de tratar das traduções e agendar os espetáculos."
As bibliotecas são as 'casas' naturais dos escritores e dos leitores ( e dos que queremos se tornem leitores dos livros dos escritores, não?), logo, os encontros aí deverão ser promovidos. Contudo, penso que:
- há bibliotecas que não merecem a visita dos escritores que convidam (porque não se preparam, porque não houve leituras prévias das obras do escritor...)
- há escritores que não merecem ser convidados (porque não gostam de falar, sorrir, interagir com público juvenil; têm só um interesse: vender as obras)
- as condições que a escola/biblioteca proporciona ao escritor devem estar expressas no convite (transporte, pagamento, duração do encontro, número aproximado dos presentes...)
- se o escritor aceita, não é eticamente correto que, depois, reclame que não foi pago ou que foi mal pago
- se o escritor não aprecia falar em público, se não gosta das bibliotecas, deve, também por razões éticas e de dignidade pessoal, não aceitar fazer 'presenças'
- alguns escritores têm dois pesos e duas medidas pois 'tratam' de maneira diferente bibliotecas escolares e bibliotecas públicas
- as editoras devem ter um papel ativo na divulgação dos seus autores, estabelecendo contactos com as bibliotecas/escolas, dando algum apoio logístico, colocando as obras no local de forma atempada...
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