A propósito da corrente e acesa discussão acerca dos benefícios/malefícios que a internet provoca nos cérebros dos 'nativos digtais', Gary Small, uma neurologista norte-americana diz que estes são melhores a tomar decisões rapidamente, a ordenar e a classificar a avalanche de estímulos sensoriais que nos bombardeiam constantemente, na internet e nos media. Os 'imigrantes digitais' são mais metódicos, cumprem uma tarefa de cada vez. Uma diferença que não torna uns melhores que outros. Apenas diferentes. O neurologista Castro Caldas afirma: "Não sei que sentido ainda faz as crianças mais jovens lerem livros. Estimulei isso na minha família, mas não sei se faz mesmo sentido.Estamos num momento de transição e certamente haverá perdas. A leitura como forma privilegiada de comunicação, se calhar está a ser inflacionada. Não fico tão perturbado se desaparecer a leitura como forma de aquisição de conhecimentos. Foi uma experiência da natureza. A mudança não nos deve meter medo."
Gary Smell, no estudo ao cérebro que fez em pessoas entre os 55 e 76 anos enquanto estas pesquisavam na internet ou liam um texto, constatou que a atividade cerebral das pessoas que têm um uso diário de internet é duas vezes maior nas áreas relacionadas com a tomada de decisões e raciocínios complexos. Assim, usar a internet pode ser encarada como uma forma de exercício para a mente, conclui Small, no seu estudo.
Por outro lado, o excesso de exposição à internet pode criar problemas pois fatiga, esgota o cérebro e deixamos de ter capacidade para reter informação.
Castro Caldas não considera este cansaço sinal de alarme. Pragmaticamente diz "Basta parar". Para o neurologista, o tempo que estamos a viver é diferente, de transição. "A escola anda desorientada. Aliás, desenvolveu-se sempre por convicções e não é fácil fazer experimentação com escolas. Agora todos se estão a agarrar ao cérebro como última grande ideia, às neurociências da educação."
Uma coisa é certa, não tenhamos dúvidas, as transformações estão a operar-se e elas afetam-nos de forma mais 'orgânica' que imaginamos. A atitude mais inteligente é estarmos preparados para lidarmos com essas transformações e perceber que as gerações mais jovens serão (já são?) diferentes nos seus processos mentais.
[in revista Pública de 31.10.10]
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